Professor por vocação

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Nós...

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Os Impressionantes textos produzidos por alguns de meus ex-alunos, nos trabalhos de 2010. Que sirvam de exemplo!



"E você disse que me pertencia..."

Por Karolina Lacerda

O CIÚME PATOLÓGICO E SUA INFLUÊNCIA NA VIDA DA MULHER
Com base na obra Sheakespeareana “Otelo, o mouro de Veneza” e em pesquisas diversas, podemos entender como o ser humano é facilmente manipulável. Qualquer um pode fazer despertar a personalidade adormecida ou inexistente, até então, e isso pode influenciar a vida de outras pessoas.
Em virtude desse pensamento, as personagens Iago, Otelo (o Mouro general) e Desdêmona, sua linda esposa, merecem análise.
Na intrigante história de amor, envenenada pelo ciúme, em Veneza, Otelo é um general bem sucedido que se apaixona e se casa com Desdêmona. Otelo é chamado para comandar a defesa do Chipre e convoca seu amigo, Cássio, para ser o tenente da guarda. Isso gera muito ciúme em Iago, que começa a planejar sua vingança e ela gerará muito conflito entre o casal e o amigo, afetando fortemente a vida da mulher, Desdêmona.
Através da história podemos notar que Otelo é facilmente manipulado por Iago, apesar de parecer forte e inabalável, destemido e admirado por todos. Psicologicamente, ele era fraco, pois se deixa levar pelas artimanhas de Iago.
Tanto se deixou envolver, que Otelo acaba desenvolvendo um ciúme patológico (doença que deixa a pessoa enlouquecida, sendo até capaz de matar a quem mais ama). Ele não tinha motivos para se sentir inferior a Cássio, mas Iago sabia como atormentar uma mente e fez com que Otelo visse que era mais velho e menos atraente. Aos poucos, a figura de Cássio vai sendo exaltada, fazendo com que o general se sentisse inferiorizado e cheio de ciúmes. Uma vez assim, ele se torna capaz de cometer as maiores loucuras, estando fora de si.
Iago era um manipulador frio e calculista que fazia das palavras sua arma mais poderosa. O que se aproxima do que chamamos hoje de “psicopata”, pois tem grande poder de persuasão, fazendo com que as pessoas, ao seu redor, acreditem no que ele está falando e se curvem aos seus desejos.
Iago, assim como Bentinho (o Dom Casmurro de Machado de Assis) tem o objetivo de manipular os sentimentos das pessoas, levando os leitores a acreditar na traição de Capitu, que não é comprovada no livro, e Iago quer envolver Otelo em suas artimanhas contra Cássio e Desdêmona.
Na obra de Machado, Bentinho tem certas semelhanças também com Otelo, pois assim como o mouro, ele tem inveja de seu amigo Escobar, e se sente inferiorizado em relação a ele. O texto do livro não deixa claro essa inferiorizarão, mas o ciúme doentio de Bento já é um indício disso.
Umas das causas do ciúme patológico podem ser os traumas e preconceitos desenvolvidos pela própria pessoa. Bentinho era totalmente controlado pela mãe e não tinha opinião própria, até certo ponto do livro. Isso pode justificar o trauma; e Otelo, talvez por ser mais velho que a esposa, sentia-se inseguro ao extremo. Sem contar que o general era negro, e apesar da patente, era um ser desencaixado na hierarquia social daquela sociedade preconceituosa, mesmo tendo subido por méritos próprios.
Nos dois casos, o ciúme doentio afeta as mulheres, estando Desdêmona, completamente inocente, e Capitu, sem culpa, até que se prove o contrário por fatos, não por suposições.
Ambas são vitimas da loucura de seus cônjuges.
Podemos encarar Desdêmona como uma Heroína grega, pois ela é pura, bondosa, bonit, jovem e vítima da brutalidade de um homem dominado pelo ciúme. Desdêmona foi a mais afetada pela loucura de Iago, o demônio conspirador, entretanto ela, sem saber de nada, vivia para o marido, só tentava auxiliar os amigos e partidários dele, sem segundas intenções ou pecados.
Otelo não vê assim e, como quase toda heroína grega, ela também é morta, embora não sofra com a morte, mas sim com a desconfiança do marido, o que a levou a um tormento maior, porque entendemos a mulher como mais sensível do que o homem. Uma simples desconfiança da parte deles é o bastante para deixá-las magoadas.
Como Desdêmona, Capitu foi vítima do ciúme de Bentinho e teve o mesmo destino: a morte. Não brutal nem sanguinária, mas possivelmente tão trágica quanto. Nenhuma das duas teve a chance de se defender das acusações, pois na época em que elas viviam a mulher sempre era a culpada, mesmo se ficasse em silêncio.
Se olharmos ao nosso redor, certamente comprovaremos que, assim como na literatura, contextos seculares continuam reincidindo em nossa realidade social.
Dizem que a vida imita a arte. Pena que, nesses casos violentos, seja difícil dizer quem imita quem.


Incrível, Karol! Estou realmente orgulhosa.







Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu - Contemplações

Por Gizelle Marques




Apesar de serem do mesmo período literário, a diferença que existe entre Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo é gritante.
O amor de Álvares de Azevedo é mais sórdido,macabro e místico, enquanto o de Casimiro de Abreu é totalmente doce e musical.A poesia de Álvares é fruto de uma criação instantânea e por isso não respeita muito a métrica, já a de Casimiro é toda dentro dos padrões.
Para Álvares o amor verdadeiro ainda não foi encontrado e no ápice de alguma relação com uma mulher ele prefere dormir ou até mesmo desmaiar.Já em Casimiro de Abreu a mulher é um ser admirado mas o amor é consumado.
Há uma música do Renato Russo cantada pela banda Catedral chamada amor sublime que retrata o amor tendo a mulher com um ser admirado mas palpável.

Amor Sublime
Catedral
Composição: Renato Russo

Lembro de você amor
Toda a vez que eu passo aqui
Noites de luar, manhãs de sol
A iluminar os nossos destinos
Sei que não há mais ninguém
Que possa me preencher
O amor com você,é mais bonito,é todo azul do mar
Vem me fazer feliz oh meu bem...

Com você tudo é diferente
Eu te quero pra sempre oh meu bem
Nosso amor é sublime,é nascente
Eu te quero pra sempre oh meu bem...
O teu nome eu gravei
Dentro do meu coração
Tem uma canção, com o vento
Ter o teu olhar, vejo tudo
Que um dia eu quis ver
Nada é igual a você
Com o seu amor
Tudo é mais simples,é todo azul do mar,
Vem me fazer feliz meu bem...

As várias faces de Álvares de Azevedo e o "mundo" fake
Álvares de Azevedo teve muitas facetas e uma era completamente diferente da outra.Essas faces foram exploradas de modo que ficassem claramente entendidas em sua obra "Lira dos vinte anos".Fica fácil identificar: a face Ariel é bondosa, tende ao lírismo exacerbado, conta com uma poesia romântica e mais emotiva.Mas sua obra foi tomada principalmente por outras duas faces chamadas de Caliban e ironia.

Apesar de ter vivido na época das loucuras cometidas pelos jovens, da vida dividida entre a faculdade e o bar da esquina, muitos biógrafos de renome de Álvares de Azevedo afirmam que ele queria mas, não participava ativamente dessa realidade de ir a cemitérios e virar noites e noites nos bares.Sua inspiração e visão vinham basicamente dos relatos e das imagens que sua imaginação produzia.Na minha concepção, Álvares era um homem totalmente frustrado com a sua realidade, por isso, idealizava tudo o que achava belo, em suas poesias.

Na nossa realidade contextual, isso acontece de uma forma um pouco diferente mas, na verdade,a essência continua a mesma, só mudaram os recursos.O exemplo mais claro disso são os fakes .Desde 2006 , quando eles foram praticamente descobertos, vêm aumentando de forma exponencial.

O que é o fake?A palavra fake significa "falso", em inglês, o termo é usado basicamente para denominar contas na internet que não são verdadeiras.A finalidade é dar informações sem se identificar.

Alguns jovens se dedicam tanto à vida fake que acabam colocando a vida real em segundo plano.E isso é muito fácil de acontecer pois a sua vida fake foi pensada e idealizada por você em cada detalhe.Sendo assim, ela tende a se tornar muito mais atraente do que a vida real que pode ser cheia de decepções e espinhos.

O fake acaba se tornando um lugar para onde a pessoa canaliza tudo o que está reprimido dentro dela.As vezes no fake, ela é o que é verdadeiramente porque lá elas podem se soltar de verdade sem preocupações , sem medo de se expor ao ridículo e não precisam prestar atenção no que falam para manter as aparências pois ali as imposições sócio-culturais não importam.
Isso pode ser claramente comparado com a poesia de Álvares que usava essas faces quase que para nos confundir e fazer com que tivéssemos dúvidas sobre qual é a sua verdadeira face.Assim, ele se mostrava mas, se escondia ao mesmo tempo.Isso acontece no fake: as pessoas mostram seu verdadeiro interior ( ou seu interior idealizado) sem mostrar a sua casca.

Breakaway
Grew up in a small town
And when the rain would fall down
I'd just stare out my window
Dreaming of what could be
And if I'd end up happy
I would pray
Trying hard to reach out
But when I tried to speak out
Felt like no one could hear me
Wanted to belong here
But something felt so wrong here
So I'd pray
I could breakaway

I'll spread my wings and I'll learn how to fly
I'll do what it takes till I touch the sky
Make a wish, take a chance, make a change and breakaway
Out of the darkness and into the sun
But I won't forget all the ones that I love
I'll take a risk, take a chance, make a change and breakaway

Wanna feel the warm breeze
Sleep under a palm tree
Feel the rush of the ocean
Get onboard a fast train
Travel on a jetplane
Far away
And breakaway

I'll spread my wings and I'll learn how to fly
I'll do what it takes till I touch the sky
Make a wish, take a chance, make a change, and breakaway
Out of the darkness and into the sun
But I won't forget all the ones that I love
I gotta take a risk, take a chance, make a change and breakaway

Buildings with a hundred floors
Swinging with revolving doors
Maybe I don't know where they'll take me but
Gotta keep movin on, movin on
Fly away, breakaway

I'll spread my wings and I'll learn how to fly
Though it's not easy to tell you goodbye
I gotta take a risk, take a chance, make a change and breakaway
Out of the darkness and into the sun
But I won't forget the place I come from
I gotta take a risk, take a chance, make a change and breakaway
Breakaway
Breakaway

Acredito que a música Breakway de Kelly Clarkson tem muito a ver com essa vontade de se mostrar de verdade, e não poder, por causa das imposições sociais que às vezes, impedem o individuo de fazer o que realmente deseja. Isso é o que acontece no fake ,as pessoas se libertam dos seus tormento pessoais e conseguem mostrar seu verdadeiro interior.

"Cresci numa cidade pequena

E quando a chuva caia

Eu ficava na minha janela

Sonhando com o que poderia ser"

Todo mundo que mora em uma cidade pequena sabe que é tudo um jogo para manter as aparências mas na verdade o que se tem é uma vida de fachada.É muito difícil ser o que se é de verdade e ser aceito em uma pequena cidade porque o preconceito sempre vai falar mais alto e uma enorme barreira vai ser criada entre você e o resto da sociedade.As pessoas vão olhar para você como se fosse um estranho que estraga a imagem da cidade.Não são aceitas outras tribos a não ser as mais elitistas. Não ouse tentar mudar essa realidade.Então o que fazer? Um fake para se libertar verdadeiramente.

"Tentando ao máximo alcançar

Mas quando eu tentava falar,

Sentia como se ninguém pudesse me ouvir

Queria fazer parte daqui

Mas algo parecia tão errado aqui"



É importante lembrar que, apesar das fantasias de Casimiro e dos delírios de Álvares,evasão é próprio dos românticos tradicionais. O fake nada mais é, do que uma fuga e isso explica muita coisa.




O seu lado jornalista está sempre ativo. Sorte nossa"!!
Parabéns e felicidades.


OS DEMÔNIOS DE CASMURRO

Por Israel Eller


Os demônios de Casmurro- Estudo psicológico sobre a obra Machadiana

O livro “Dom Casmurro” (1899), é um romance realista narrado por Bentinho, o “protagonista” da história. O livro gira em torno de um questionamento: Capitu cometeu ou não adultério? Mas é impossível chegar a alguma conclusão sobre isso. Machado de Assis criou uma trama intrigante onde Dom Casmurro nos joga contra "a ré" em questão, mas mesmo com todas as suas reflexões maldosas, no livro não há provas suficientes para incriminar Capitu, o que torna inútil qualquer opinião a re speito.
Vendo a inutilidade de um veredicto, passamos a analisar as personagens sob uma visão técnica e psicológica, principalmente Bentinho e seu ciúme por Capitu. Bentinho apresenta características psicológicas opostas às de uma figura masculina, não o reconheço homossexual, mas excepcionalmente frágil, submisso, não viril, sem brilho próprio. Um personagem nulo e casto, que é marcado somente por sua patologia e pelo cinismo. O que alguns chamam de frieza eu identifico como cinismo, como o fato de ele ir ao teatro logo após receber a notícia trágica da morte de sua mulher, e ver a peça “Otelo - O Mouro de Veneza” sobre a qual teceu o seguinte comentário: “Vi as grandes raivas do mouro, por causa de um lenço. - um simples lenço!-“ – Cap 135 pág 179. Um simples lenço que fez brotar a semente do ciúme no coração do Mouro assim como o olhar fatídico que fez o mesmo a Dom Casmurro .
O drama desse personagem começa com D. Gloria (para mim, o verdadeiro monstro da história), que após perder o primeiro filho apela para a religião, prometendo o destino do próximo filho à igreja.
Para entender a patologia de Dom Casmurro, precisamos entender o que, ou melhor, quem o tornou assim. Após o nascimento de Bentinho seu pai morre, deixando Gloria viúva. Sem o marido ela passa a cativar o filho e prendê-lo a seu lado como um substituto, temendo ferozmente a futura separação de seu rebento. E sem o pai, Bentinho fica sem seu modelo. Freud mesmo defendia sua descoberta de que há uma sexualidade infantil: o psiquismo humano que forma-se a partir dos conflitos que, desde o nascimento, confrontam os instintos sexuais e a realidade. Podemos dizer que, em termos psicanalíticos, nós somos o resultado da história da nossa infância. Marilena Henriques, psicoterapeuta há mais de 25 anos, com especialização em Psicoterapia Breve e linha Psicanalítica, também menciona a existência de uma faixa etária na qual a criança passa por um processo de diferenciação sexual (essa etapa apontada por ela entre os 2 e os 4 anos, e também dos 6 aos 7) quando a criança observa e copia as atitudes do pai ou da mãe identificando mais as atitudes de um deles com seu universo; Ezequiel também passa por isso no livro, coisa que irritava bastante sua mãe: “Eu expliquei:- Não; é porque Ezequiel imita os gestos dos outros.” Cap 117 pág 163. Sem tal modelo Bentinho se torna feminilizado, mesmo tendo consciência de ser homem, ele não sabe como o ser. Como resultado temos o personagem tímido, submisso e casto que o livro nos mostra. Bento nunca se tornou homem por completo, ele sempre foi dependente da mãe e de suas lembranças infantis, até quando se mudou e reconstruiu sua casa, da forma que era em seus tempos de menino, como mostra a passagem do livro logo no começo: “A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo... há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra” Cap 2 pág 4. A figura de D. Gloria nos é dada como uma santa bem-aventurada, enaltecida pelo próprio nome. A religiosidade de Bentinho o faz muito mais obediente a sua mãe, tendo ele não opinião própria, mas a opinião que lhe é imposta, como mostra a fala de Bentinho: “Eu gosto do que mamãe quiser.” Cap 21 pág 33.
O ciúme que Bento teve de Escobar, tem a ver com o fato do amigo ser seguramente um homem, viril, forte, decidido. Bento via nele a figura a ser seguida. Sua relação com Escobar pode ser classificada como um tipo de homoafetividade (sentimento que o menino deveria sentir pelo pai, que no caso, estava ausente). Homoafetividade é uma classificação de Homossexualidade (o termo homossexualismo foi considerado inapropriado já que o sufixo “ismo” qualifica doença) que exclui o afeto sexual, privando somente a afetividade de um sujeito com o outro do mesmo sexo. Como se Escobar refletisse sua masculinidade, e quando ele morre, leva consigo tal virtude. Afirmo que Bentinho era afeminado e tinha um vinculo forte com o amigo. A inveja que tinha não o permitia ver Escobar como um obstáculo a ser ultrapassado, a inveja é uma emoção que leva o indivíduo e a sociedade à transformação do seu potencial. Em função do desejo individual de realização. Como foi dito por Carl Gustav Jung, grande nome da psicologia (quem desenvolveu a psicologia analítica, lapidando as observações de Freud), "o principal instinto humano é aquele que conduz o processo de individuação, que revela a força vital dentro de nós, que nos impulsiona ao crescimento, ao desejo, à criatividade e às conquistas".
A inveja de Bentinho da desenvoltura masculina de Escobar, como pode ser notado no trecho do livro: “Apalpei-lhe os braços... achei-os mais grossos e fortes que os meus, e tive-lhes inveja; acresce que sabiam nadar.” – Cap 118 pág 165, pontua sua relação muito antes do ciúme avolumar-se. Mais inveja tinha Bento de Capitu, pois queria estar no lugar dela, permitindo-se ter um olhar tão triste quanto o da viúva ao ver o marido morto. Talvez tenha sido este o real estopim de sua crise conjugal.
A inveja é um sentimento oculto, muito presente no livro, o que é capaz de explicar muitas coisas a respeito da mentalidade de Bentinho e sua patologia. O ciúme forma com a inveja um par de emoções. São primos-irmãos, que caminham juntos no funcionamento e no desenvolvimento da personalidade, o que, no caso de Bentinho, se deu de forma equivocada, como é fácil notar.
O ciúme que o personagem tem é com certeza considerado patológico. Sendo Escobar a representação da virilidade que Bento almejava, após sua morte,Bentinho perde seu ideal reflexo, e consequentemente, não pode mais sustentar seu relacionamento, nem tampouco ter Ezequiel como filho.
Capitu, para Dom Casmurro, passa a ser noiva do cadáver assim como Ezequiel passa o filho do morto. Bento apresenta em várias partes do livro um ciúme possessivo, “Cheguei a ter ciúmes de tudo e de todos.” – Cap 113 pág 157, esse trecho demonstra a insegurança de Bentinho sobre sua própria masculinidade que se deve a todos os fatos mencionados anteriormente, principalmente a falta da figura paterna.
Para concluir podemos massagear o ego do autor Machado de Assis,que retrata o psicológico dos personagens, mas também avalia a sociedade carioca do século XIX. Uma sociedade onde a igreja controlava tudo, com a ameaça do fogo eterno (assim como D. Gloria controlava Bentinho) e uma sociedade que não permitia a demonstração de afeto entre dois homens, sem condenação (razão por que Bentinho tem tanta inveja de Capitu, mulher, podendo demonstrar olhar piedoso em relação a morte de Escobar). Demonstrando tanta maestria com as palavras, Machado de Assis embute no romance as patologias psicológicas, que são inúmeras, de forma que o leitor nem ao menos venha a percebê-las.
Analisando tudo, Machado nos armou um círculo que começa e termina com a possessão materna fragilizadora, a fraqueza, a homoafetividade, o ciúme, a
traição, a depressão e a morte, disfarçados de amor.


Bibliografia.

www.jayrus.art.br
http://www.psicologia.com.pt/
http://www.wikipedia.org/
http://www.consciencia.net/2003/06/07/homoafeto.html
http://recantodasletras.uol.com.br/ensaios/85293
http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/download/Dom_Casmurro.pdf
Postado por REALISMO - literatura às 11:58
Marcadores: Israel Eller




Eu sempre classifiquei as "viagens" de Israel como bastante proveitosas. Há que se busque um embasamento teórico maior, uma vez que o tema exige isso, mas...
que é que eu posso dizer diante do talento de um garoto de 16 anos com tino de pesquisador e vocação de artista, que atendeu muitíssimo bem a nossa orientação???
Acho que estamos no caminho certo. No caminho de moldar muitos outros, como Israel!

Confira os outros textos dele no menininhasdosegundoano.blogspot.com
2010 foi um grande ano !!



Leão Ferido
Por: Marien Faria




O Morro dos Ventos Uivantes é um dos romances mais apaixonados e sombrios da literatura, tem um senso de mistério, amor (não correspondido) e vingança, muito forte.
Começa quando Heathcliff era apenas um menino, e foi adotado pelo Sr. Earnshaw, todos os membros da fazenda acham o garoto estranho, exceto Catherine (filha do Sr. Earnshaw)e que o adora. Hindley (irmão de Catherine) tem ciúmes da forma como o pai cria Heathcliff, quando seu pai morre, Hindley assume tudo, impedindo a educação de Heathcliff e tratando-o como um trabalhador braçal.
Ele tenta fazer com que Catherine se dê bem com os Lintons, que é uma família rica e respeitada, criando assim uma barreira entre ela e Heathcliff. Um dia, Edgar Linton pede Catherine em casamento e ela aceita, por considerar que com Heathcliff ela perderia status na sociedade.
Heathcliff deixa os Ventos Uivantes e Catherine fica arrasada, quando ele retorna, começa o conflito emocional dela, por querer os dois homens na sua vida e acaba ferindo a ambos e a si mesma, até quando ela dá à luz a uma filha de Edgar e morre.
Heathcliff fica com um tumulto em sua mente, com a notícia da morte de Catherine, e declara guerra a todos aqueles que o separaram dela.
Ele então tem um caso com Isabella, irmã de Edgar, com quem terá um filho. O resto da estória mostra como Heathcliff destrói Hindley e toma os Morros Uivantes, tratando Hareton, filho de Hindley, da mesma maneira que ele próprio foi tratado, anos atrás, por seu pai. Ele força a filha de Catherine, Cathy, a se casar com seu filho Linton e se apodera de tudo.
Com a morte de Heathcliff a "paz" retora ao local.
A platônica e obsessiva história vivida por Heathcliff, me levou a refletir sobre sua reação, quando ele perde a passoa amada, e como esse amor imenso e intenso afetou sua vida. A música "Leão ferido" de Byafra, que fez sucesso nos anos 80 reflete bem isso.Heathcliff é um Leão Ferido.

Feche os olhos
Não te quero mais
Dentro do coração...
Quantas vezes
Eu tentei falar
Com você...
Eu não gosto
De me ver assim
Mas não tem solução
A verdade dói
Demais em mim
Solidão...
Tenho que ser bandido
Tenho que ser cruel
Um leão ferido Feroz!
Sou um herói vencido
Anjo que fere o céu
Grito de amor sumido
Na voz!Que voz!Ouve!

Ele é um tipo de "herói" totalmente diferente de todos os que idealizei. Quando se pensa em um herói, o que vem à mente é um homem, forte, bonito, educado, cavalheiro, perfeito, com poderes e atitudes especiais que o diferenciem dos demais homens. Heathcliff não se enquadra bem nesse pensamento, ele pode ser visto sob diferentes ângulos. Como herói romântico ele é introspecto, individualista, idealista, ama exageradamente de forma doentia o que é típico, abrindo mão da própria felicidade. E se começarmos por sua história pessoal, perceberemos que na infância ele foi rejeitado por quase todos na família, que nem era a sua,. Fisicamente ele também era diferente, por ser um cigano moreno, em uma família inglesa tradicional, e quando seu pai morre, ele perde os privilégios que tinha, passado a ser tratado como empregado, um burro de serviços (literalmente). Ele sofre com a rejeição da única pessoa que amava, Catherine, e sofre por não ser a "pessoa certa" para ela, segundo a visão da sociedade da época. Quando Catherine se casa, Heathcliff abandona o seu lar por não conseguir vê-la com outro, retornando a Ventos Uivantes pouco antes da morte dela. Isso gera o maior conflito de sua mente, porque o único desejo que ele tem é o de vingança contra tudo e todos, como se a morte dela fosse a força para ativar a grande bomba que havia em sua cabeça.
Uma bomba é uma arma explosiva cuja energia deriva de uma reação nuclear e tem um poder destrutivo imenso — dependendo da potência, uma única bomba é capaz de destruir toda uma grande cidade. Assim como o poder destrutivo nas mãos de Heathcliff afetava não só á ele, mas a todos a sua volta, de uma forma intensa. O rancor que o mobiliza transforma todos em vítimas potenciais, nos levando a pensar se ele é o protagonista, o antagonista, ou ambos ao mesmo tempo.
Yorkshire, norte da Inglaterra, é o ambiente onde a história se dá, em fins do século XVIII. É uma região agreste, desolada e selvagem e varrida pelos ventos, a mesma que, nas primeiras décadas do século, serviu de lar quase constante à autora do romance, Emily Bronte. "Os fortes ventos atlânticos, de modo turbulento, impelem as nuven do céu, sempre escuro e chuvoso". Esse ambiente agreste inspirou o livro que foi escrito às vésperas da sua precoce morte. Nada impediu que Emily encontrasse nessa solidão muitos prazeres, dos quais o maior era o sentimento da liberdade. Ela relata um amor que transcende os amantes, que os exalta e aniquila. Mas certamente, fiquei demasiado fascinada por Heathcliff, um personagem que reflete bem nesse cenário escuro, sombrio que a autora vivia, porque ele também era misterioso; foi isso que levou-me a entender o livro e o personagem de diversas formas diferentes. Quando li pela primeira vez tive um ponto de vista, na segunda, pude entendê-lo e poderia ler de novo que acharia várias nuances no caráter de Heatchcliff, como ele é, o que pensava, porque, ao mesmo tempo em que é loucamente apaixonado, é também rancoroso, vingativo, ferido.
O cenário também refletia nele, que acreditava ouvir a voz da amada depois de morta, confudindo-a com os ventos. Assim como a autora também devia ficar assustada com os fortes ventos-vozes de Yorkshire.
Apesar das reflexões, Heathcliff continua sendo um personagem misterioso e intrigante.
Na verdade, acho que eu também tenho ouvido os ventos...


E que eles continuem a soprar inspiração aos seus ouvidos, Mariem.
Boa sorte aí, onde você está!!
Deus te ilumine, sempre.

Um comentário:

  1. Fantásticas análises em tons universais, porém de uma individualidade incrivelmente ímpar. Parabéns!

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