Professor por vocação

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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Crônicas diárias



Ponto Fraco


Estava separada há exatos 34 dias.
Talvez eu pudesse dizer, “trinta e quatro dos dias mais difíceis de minha vida”, mas a verdade é que fazia 34 dias que eu estava sozinha, embora não sentisse mais o pescoço sempre na forca. Eu acordei numa manhã de domingo, e percebi que não tinha que me preocupar com o veneno do ciúme, nem me desgastar com o tempo que ele não tinha pra mim, nem com as dúvidas óbvias sobre se eu ainda tinha alguma importância, ou como conseguiria acabar de criar meus filhos pequenos. Na verdade, eu sempre tivera a maioria dessas respostas.
A noite anterior havia sido especial, muitas coisas vinham acontecendo e eu me sentia num turbilhão de descobertas, como se tudo que não acontecera antes resolvesse acontecer de uma vez. Há uma fase, pós-separação em que se passa a ser o centro das atenções. Se não pelo bate-boca dos outros, pelas observações gerais que recaem sobre os envolvidos, até que outro problema aconteça ou outro casal se separe.
Não era a primeira pessoa que eu beijava, nessa fase-foco. Mas seria a primeira pessoa que se tornaria “especial”, depois daquilo tudo.
Quem estava mais próximo não queria que eu me envolvesse, por motivos óbvios e porque um mês é quase nada nesse tipo de situação, mas... para uma mente infeliz isso não vale como argumento. Especialmente se essa infelicidade tem a ver com uma rejeição.
Imagine o náufrago com o rosto fora d’água, se debatendo pra alcançar apoio. Ou o cara dependurado na corda tendo o precipício abaixo e um galho seco servindo de suporte. Naquele momento, era assim que eu me sentia e faltou maturidade pra que eu tivesse paciência.
A bem da verdade é que faltou fé. Não era privilégio meu ter a fé que renova a vida e remove montanhas... a mesma fé que só viria anos depois, com as amargas experiência e com a idade.
O alívio imediato veio na figura de alguém, cheio de atenções e gestos carinhosos e que foi ganhando espaço na vida e nos meus pensamentos. A esse alívio eu batizei de “Ponto Fraco”.
Ponto Fraco fazia tudo ao contrário do habitual. Para quem vivia uma rotina de tensões emocionais, ter um Ponto Fraco significava descansar de todas as tensões. Eu passei a ter, em muito pouco tempo, a ilusão de que nada era tão difícil, porque eu dormia e acordava num abraço quente, já não fazia nada sozinha, já não pensava por mim, já não ouvia ninguém...
E como num passe de mágica, ele chegava e a amargura saía, mas como tudo o que parece fácil demais merece desconfiança, ninguém que tenha um Ponto Fraco é, afinal, inatingível e todo Ponto Fraco, no fundo, é um problema que pode ser evitado.
E foi aí que eu percebi como somos frágeis e vulneráveis, e como é fácil se deixar levar pelas fraquezas... sem notar que fraquezas geram mais vulnerabilidade.
Hoje, não sei onde foi parar meu Ponto Fraco. Sei que, de coração eu prefiro não tê-lo, porque muitas coisas dependem do meu equilíbrio e da minha força. Aquela fase difícil passou, é bem verdade que, sem Ponto Fraco, foi mais difícil, mas no fim... as coisas mais difíceis duram mais, são mais absolutas e definitivas.
Viver não é fácil, mas vale a pena, e apesar dos sofrimentos, é possível ser forte. Isso porque sempre chega um momento em que se senta no sofá da sala e só se tem lembranças ao invés de rancores... O insuportável ganha dimensões menores, e percebe-se que a única verdade é que tudo passa...
Inclusive as dores.

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