Professor por vocação

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domingo, 4 de setembro de 2011

"Abençoa, Senhor, a minha também..."


Por: Teacher Chris




Sabe... Família é um negócio engraçado.
Todo mundo que enxerga além do próprio nariz tem percebido que o conceito tradicional dessa instituição, tão indiscutivelmente importante, já não é mais tão tradicional assim. Nós que lidamos com educação temos material de sobra, nesse âmbito, para compreender esse fenômeno que tem tudo a ver com raízes culturais, questões de fé e formação pessoal, é claro.
Não estou dizendo que o legal não seja o modelo básico “pai, mãe e filho”. Mas estou dizendo que as caras que ilustram essas denominações têm adquirido outros formatos, assim como mudaram também as relações interpessoais, no que concerne ao respeito, à maneira de se tratar o outro, eu diria até mesmo, à maneira como vemos quem está ao nosso lado, e creio que isso é um tema merecedor de análises bastante sérias.
Por exemplo.
Todo mundo acha que eu e meu ex-marido temos duas opções básicas. Ou vivemos em pé de guerra, como quando éramos casados... ou voltamos a ser marido e mulher.
Na cabeça das pessoas, é inconcebível que nós sejamos realmente amigos, e que freqüentemos as casas um do outro, e que continuemos mantendo as mesmas relações familiares de quando éramos casados, ou que ele continue chamando meus pais de “sogros” e eu à irmã dele de “cunhada” , apesar dos quase 10 anos de separação. Ninguém entende que eu vejo as namoradas dele sem ciúme, e que ele me dá conselhos sobre com quem devo me relacionar, e que é muito fácil chegar na minha casa aos domingos e pegá-lo na minha varanda tocando sanfona. Eu não vou mencionar as decisões de pai que ele continua tomando, nem o dinheiro que a gente se empresta, ou a pensão que ele faz das tripas coração pra manter em dia, não por medo da polícia (porque isso não existe entre nós), mas porque ele é pai, e sabe o que significa ver um filho passando dificuldade.
Não há desrespeito, nem brigas, como antes. É bem verdade que também não há mais intimidade. Mas ainda há amor. Não o amor que une marido e mulher, mas o amor que une um pai e uma mãe. Ou o amor que há entre amigos que deixaram de viver juntos, mas não deixaram de ser amigos.
Fico pensando nos vários formatos de família que vejo entre os meus alunos. Avós que são mães, mães que são pai e mãe. Pais que são mães e pais, avôs que são pais e irmãos que são tudo... Tenho lido sobre casais homossexuais que têm filhos e que têm criado muitíssimo bem seus filhos, mesmo contra a torcida negativa de uma parte preconceituosa da sociedade. São esses tantos pais e mães, irmãos e avós o que chamamos de “família”, e não existe nada que diga que uma família não possa ser feliz tendo dois pais e nenhuma mãe, ou duas mães e nenhum pai. Algumas só tem um deles e outras nenhum dos dois.
Não creio que seja o ideal, mas como professora, eu sei que existem modelos diferentes. Nem todos os modelos funcionam, a maioria funciona torto, mas isso independe das peças, e tem mais a ver com como as peças convivem e se inter-relacionam.
As pessoas me perguntam como passei por uma separação traumática sem permitir que meus filhos ficassem traumatizados, ou conseguindo, no final, fazer com que o que tinha tudo para ser uma relação de ódio e menosprezo, se tornasse verdadeiramente uma relação familiar.
A resposta é muito simples. Eu entendi que família é família em qualquer lugar, com qualquer cara, e de qualquer jeito. Não é o sangue, nem a genética nem os papéis assinados ou os dogmas religiosos que ditam as regras. É o amor.
O sentimento que move as relações e que nos faz capaz de abrir mão da juventude ou da boa vida pra cuidar de alguém. A única força capaz de subverter demagogias e de vencer preconceitos, erguendo bandeiras e derrubando tabus se preciso for, em defesa de alguém.
Amor, meu caríssimo leitor.
Pura e simplesmente.

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